Sonho 1:
Oração
a mim mesmo
Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Que eu me permita olhar e escutar e sonhar mais.
Falar
menos. Chorar menos.
Ver
nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm
e
não a inveja que prepotentemente penso que têm.
Escutar
com meus ouvidos atentos e minha boca estática,
as
palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
Permitir
sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber
realizar os sonhos que nascem em mim e por mim
e
comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então,
que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis;
aqueles
que morrem e ressuscitam
a
cada novo fruto,
a
cada nova flor,
a
cada novo calor,
a
cada nova geada,
a
cada novo dia.
Que
eu possa sonhar o ar,
sonhar
o mar,
sonhar
o amar,
sonhar
o amalgamar.
Que
eu me permita o silêncio das formas,
dos
movimentos,
do
impossível,
da
imensidão de toda profundeza.
Que
eu possa substituir minhas palavras pelo toque,
pelo
sentir,
pelo
compreender,
pelo
segredo das coisas mais raras,
pela
oração mental (aquela que a alma cria e que só ela,
alma,
ouve e só ela, alma, responde).
Que
eu saiba dimensionar o calor,
experimentar
as curvas,
desenhar
as retas,
e
aprender o sabor da exuberância que se mostra
nas
pequenas manifestações da vida.
Que
eu saiba reproduzir na alma a imagem
que
entra pelos meus olhos
fazendo-me
parte suprema da natureza,
criando-me
e recriando-me a cada instante.
Que
eu possa chorar menos de tristeza
e
mais de contentamento.
Que
meu choro não seja em vão,
Que
em vão não sejam minhas dúvidas.
Que
eu saiba perder meus caminhos
mas
saiba recuperar meus destinos com dignidade.
Que
eu não tenha medo de nada,
principalmente
de mim mesmo:
_Que
eu não tenha medo de meus medos!
Que
eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis,
e
desperte com o coração cheio de esperanças.
Que
eu faça de mim um homem sereno
dentro
de minha própria turbulência,
sábio
dentro de meus limites pequenos e inexatos,
humilde
diante de minhas grandezas tolas e ingênuas
(que
eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas
e o
quanto é valiosa minha pequenez).
Que
eu me permita ser mãe,
ser
pai, e, se for preciso, ser órfão.
Permita-me
eu ensinar o pouco que sei
e
aprender o muito que não sei,
traduzir
o que os mestres ensinaram
e
compreender a alegria com que os simples
traduzem
suas experiências;
respeitar
incondicionalmente o ser;
o
ser por sí só,
por
mais nada que possa ter além de sua essência,
auxiliar
a solidão de quem chegou,
render-me
ao motivo de quem partiu
e
aceitar a saudade de quem ficou.
Que
eu possa amar e ser amado.
Que
eu possa amar mesmo sem ser amado
fazer
gentilezas quando recebo carinhos;
fazer
carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.
Que
eu jamais fique só,
mesmo
quando eu me queira só.
Amém.
Oswaldo Antônio Beggiato
Oswaldo Antônio Beggiato